Como e quando ensinar ortografia: 5 pressupostos

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Ortografia é um assunto que intriga muita gente. Penso que é porque não temos, de maneira bem esclarecida, o que é, como ensinar, quando ensinar. Focamos muito na aprendizagem inicial da leitura e da escrita e, por vezes, esquecemos dela, da ortografia. Aliás, achamos que isso é coisa de “gente grande”. Vamos, então, colocar os pingos nos “i’s”?

Quero trazer cinco pressupostos sobre o ensino da ortografia. Você vem comigo?

1) Duas visões sobre o ensino da ortografia: qual é a sua?
• Detetive: o professor tem uma postura mais tradicional, procura erros ortográficos em toda e qualquer produção de texto, assinalando-as sem dó nem piedade. Cobra ortografia em qualquer ano escolar, independentemente do contexto. Não há uma reflexão sobre o erro e os ditados são realizados apenas com o objetivo de verificar os erros do aluno.
• Espontaneísta: aqui o professor tem a ideia de que o aluno vai aprender ortografia sozinho, baseado naquele discurso que “quanto mais a criança ler, mais ela vai escrever corretamente”. Outra ideia desta visão é de que o aluno vai buscar auxílio quando tiver dúvida, e só aí seria o momento de ajudá-lo. Ou, ainda, trabalhar ortografia apenas quando surgirem alguns erros comuns na turma, sem planejar um ensino sistemático.

Abandonamos a visão detetive e a visão espontaneísta. Ortografia precisa ser
ensinada, sim, com base nas metas para cada ano escolar, de acordo com o desenvolvimento da criança. Não iremos apenas avaliar e riscar as palavras incorretas, mas iremos refletir sobre a escrita delas, criando regras (se forem regulares) e aprendendo com sentido!

2) Considerações básicas
1 – Tenha uma postura reflexiva: os erros do seu aluno precisam ser vistos como uma hipótese, como possibilidade de reflexão e intervenção. Não enxergamos o erro sem esta sensibilidade. É ele que nos dará subsídios para boas práticas interventivas que ajudarão a nossa turma a avançar.
2 – Disponibilize o convívio com diferentes gêneros textuais: este contato é essencial para que os alunos conheçam as normas da ortografia em diferentes contextos.
3 – Promova situações de aprendizagem em que as crianças demonstrem seus conhecimentos ortográficos: é sempre mais significativo partir de onde os alunos  se encontram. Isso atribui sentido e faz com que eles se sintam participantes e protagonistas desse processo de ensino e aprendizagem.

3) Quando ensinar ortografia?
Aqui, antes de mais nada, cabe uma discussão sobre a diferença entre estar alfabético e ser alfabetizado. Chegar à uma hipótese alfabética (níveis de escrita) NÃO significa estar alfabetizado. Estar alfabético é uma das fases de escrita, já mais avançada, quando o aluno já compreendeu que existe uma correspondência entre letra e som, percebendo as menores unidades da língua (os fonemas). Já, alfabetizado, é o sujeito que é capaz de ler e compreender pequenos textos, além de produzir diferentes gêneros textuais escritos. Perceberam a diferença? Queremos que os alunos estejam ALFABÉTICOS ao fim do primeiro ano, porém, estar ALFABETIZADO pode exigir mais tempo escolar.

Esclarecida esta diferença, segundo Morais (2012) não devemos começar o ensino da ortografia, de forma sistemática, antes que as crianças já tenham consolidado as relações grafema-fonema (estejam alfabéticas). Contudo, é importante ressaltar que as palavras de uso habitual podem ser trabalhadas através de banco de palavras. Se a palavra “hoje”, por exemplo, aparece muito no vocabulário desta turma, tudo bem explicar que ela começa com a letra “h” e colocá-la na nossa lista de palavras estáveis, mesmo que as crianças ainda não estejam alfabéticas. Quando falamos em não começar de maneira sistemática significa que não formularemos sequências didáticas ou projetos para intensificar o estudo de alguma regra ortográfica. E por quê? Porque se considerarmos que o aluno esteja apresentando uma hipótese pré-silábica, o investimento precisa ser nas habilidades de alfabetização e não de ortografia. Ou, ainda, se escreve utilizando um grafema para cada sílaba (hipótese silábica) não faz sentido a análise simplificada de que esta criança está errando ortografia quando escolhe CH ao invés de X ao escrever CH I A A. O investimento aqui precisa estar no avanço para a hipótese alfabética e não na memorização da irregularidade X/CH.

4) O que priorizar em cada ano escolar?
Mesmo que se tenha metas “gerais”, é necessário considerar a heterogeneidade de cada turma e pensar nos seus alunos, no seu contexto.
É necessário ter metas definidas e claras: não podemos cair no erro de “todo ano ensina tudo”. O que observamos, por esta falta de foco, é que a professora de cada ano é que decide o que vai ser trabalhado, de maneira aleatória. No ano
seguinte, não se tem uma continuidade. CUIDADO! Isso pode prejudicar o processo de aprendizagem da ortografia. Sente-se com seus colegas e estabeleçam os objetivos para cada ano escola, fundamentando-se nos currículos de base ou em pesquisas teóricas. No meu CURSO POP – PROGRAMA ORTOGRAFIA NA PRÁTICA, eu apresento esta linha de continuidade para cada ano escolar. Clique aqui para conhecer mais.

O ensino da ortografia possui uma hierarquia:
• Regularidades diretas: conversor grafema-fonema, V ou F, T ou D, P ou B…
• Regularidades contextuais: R ou RR, QU, M ou N…
• Irregularidades: X ou CH, G ou J, H no início…

Essa hierarquia deve ser respeitada dentro dos anos escolares. Uma sugestão seria:
• 1º ano: enfatizar o trabalho das convenções letra-som;
• 2º ano: consolidar as convenções grafema-fonema (letra-som), regularidades contextuais e priorizar uma maior fluência na escrita;
• 3º ano: avançar na norma ortográfica, com foco nas regularidades contextuais e irregularidades.
• A partir do quarto ano: trabalhar com as regularidades contextuais e com as irregularidades (estabelecer quais, não todas de uma vez), focando na  fluência escrita de diferentes gêneros textuais).

5) Como ensinar ortografia de forma eficiente?
• Você, como educadora, precisa conhecer a língua: estude sobre a língua portuguesa, sobre cada um dos diferentes tipos de dificuldades ortográficas. Existem regras na ortografia que pode ser que você ainda não conheça (eu mesma aprendi muitas lá no meu mestrado!);
• Intervenções/atividades corretas para cada tipo de erro ortográfico: não pense que ortografia é só decoreba. Como falamos antes, existem regras que fazem sentido e que podem ser generalizadas para aquelas palavras.
Se você conhecê-las, saberá propor melhores reflexões e intervenções com seus alunos. Para cada tipo de erro, existe uma intervenção específica.
• Avaliar sempre: verificar avanços é muito importante! Não avaliamos apenas para dar uma nota. A avaliação é necessária para perceber onde estamos, para onde vamos e como chegamos. Realizar sondagens só faz sentido se tiver um investimento de intervenção posterior no processo de ensino e, assim, alcançar resultados. Além disso, acompanhar a ortografia do perfil coletivo do grupo pode nos ajudar a perceber quais crianças têm mais dificuldades, bem como a necessidade de um investimento maior.
• Por fim, se você deseja conhecer a língua portuguesa e se sentir mais segura para fazer boas intervenções práticas com seus alunos, clique aqui que eu te ensino como.

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Abraço,
Professora Clarissa Pereira e Camila Oliveira

4 Comentários


  1. CLARISSA AMEI ESSE COMENTÁRIO SOBRE ORTOGRAFIA, MUITAS VEZES ENSINAMOS PORQUE ESTÁ NO LIVRO DIDÁTICO E ÃO SABEMOS COMO E NEM PORQUE. EXCELENTE CONTEÚDO PARA REFLEXÃO.
    JÁ COMPARTILHEI COM AMIGOS.

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