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Em meados dos anos 80, começou-se a questionar o conceito de alfabetização, em função do surgimento do letramento. Ser alfabetizado, antigamente, era escrever seu próprio nome. Hoje, o conceito contemporâneo de estar alfabetizado engloba as habilidades de leitura, escrita e compreensão. Em síntese, alfabetização é o processo de aprendizagem do sistema alfabético e de suas convenções, ou seja, a aprendizagem de um sistema notacional que representa, por grafemas, os fonemas da fala. (Glossário do CEALE)
No meio dessa mudança toda, os professores dedicaram-se a buscar qual a melhor maneira de alfabetizar?
Procurou-se, então, um MÉTODO, um modo de ensinar de forma a garantir a aprendizagem do meu aluno. Através do método, buscava-se seguir um procedimento que assegurasse o bom desempenho do meu aluno na aquisição da leitura.
Afinal, o que são métodos? Precisamos temer esse conceito? Trata-se de “[…] um conjunto de procedimentos que, fundamentados em teorias e princípios, orientem a aprendizagem inicial da leitura e da escrita, que é o que comumente se denomina alfabetização” (SOARES, 2016 p.16).
E que tipos de métodos conhecemos hoje?
- Método Sintético – parte de unidades linguísticas menores para as maiores (alfabético, silábico, fônico);
- Método Analítico – parte da unidade linguística maior para a menor (palavração, frases, histórias…);
- Método Analítico-Sintético – método misto.
Mais do que pensar em como ensinar, precisamos, como professores, compreender como se aprende: como se dão os processos de aprendizagem da leitura e da escrita, além de que funções cognitivas estão envolvidas nesse processo. Tudo isso porque a alfabetização não se resume a métodos. O que faz diferença é o planejamento, ação e intervenção do professor com intencionalidade, objetivo e conhecimento. O professor e o aluno devem ser os protagonistas do processo e não estarem “escondidos” por trás de um método fechado.
Os métodos existem, não devem ser temidos, mas devem servir o professor, podem ser misturados e tentados de diferentes maneiras. Cada criança responderá de uma forma. É preciso ter sensibilidade para discernir o que está funcionando e o que deve ser deixado de lado. Mudar as estratégias e saber: apenas deixar a criança em um ambiente letrado não é suficiente. A criança (ou o adulto) precisa do ENSINO EXPLÍCITO do sistema de escrita alfabético. Como isso será feito? Qual será a receita? Isso depende de você!
Algumas pistas…
Embora na criança necessite de um ensino explícito do sistema de escrita alfabético, o processo de alfabetização deve ser desenvolvido em um contexto de letramento. Devemos, para isso, considerar três facetas envolvidas neste processo:
- Faceta Linguística: apropriação do sistema alfabético-ortográfico, decodificação e codificação;
- Faceta Interativa: habilidades de compreensão e produção de texto;
- Faceta Sociocultural: eventos sociais e culturais que envolvem a escrita.
“A integração das facetas permite que, ao mesmo tempo que vai aprendendo a codificar e decodificar, a criança vá também aprendendo a compreender e interpretar textos, de início lidos pelo(a) alfabetizador(a), aos poucos lidos por ela mesma, e a produzir textos, de início em escrita inventada, aos poucos em frases, em pequenos textos de diferentes gêneros, ditados para o/a alfabetizador(a), que atua como escriba, ou escritos por ela mesma. Em outras palavras, a criança se insere no mundo da escrita tal como ele é: aprende a ler palavras com base em textos reais que lhe foram lidos, que compreenderam e interpretaram – palavras destacadas desses textos, portanto, contextualizadas, não palavras artificialmente agrupadas em pseudotextos, não mais que pretextos para servir à aprendizagem de relações grafema-fonema; e aprende a escrever palavras produzindo palavras e textos reais – não palavras isoladas, descontextualizadas, ou frases artificiais apenas para prática das relações fonema-grafema; e ao mesmo tempo vai ainda aprendendo a identificar os usos sociais e culturais da leitura e da escrita, vivenciando diferentes eventos de letramento e conhecendo vários tipos e gêneros textuais, vários suportes de escrita: alfabetizar letrando.” (Soares, 2016).
Sugestão de atividades para englobar as três facetas no planejamento:
- Diariamente:
- Leitura coletiva, individual ou realizada pela professora;
- Escrita coletiva, individual, banco de palavras;
- Análise de gêneros textuais;
- Produção de textos;
- Reflexão metalinguística;
- Oralidade, diálogo, resumos, críticas, roteiros, sequências lógicas;
- Trabalhar com diferentes tipos de letra (dependendo do período do ano e qual a turma);
- Trabalho sistemático com nome próprio.
- Semanalmente:
- Práticas de oralidade;
- Estratégias de revisão de texto;
- Diferentes atividades de reflexão metalinguísticas, a fim de trabalhar com diferentes habilidades;
- Variar os materiais de leitura.
- Mensalmente:
- Dramatização de histórias;
- Exploração de diferentes gêneros textuais;
- Intercâmbio de mensagens entre as turmas;
- Murais temáticos sobre o que estão trabalhando;
- Atendimento da turma em pequenos grupos divididos por diferentes níveis de escrita e leitura.
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Livros citados:
– Sistema de escrita alfabética (Artur Gomes de Morais)
– Alfabetização: a questão dos métodos (Magda Soares)
– Práticas pedagógicas em Alfabetização: espaço, tempo e corporeidade (Luciana Piccoli e Patrícia Camini)
LIVE SOBRE MÉTODOS:
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Amei .Muito bom. Estou fazendo um trabalho sobre as facetas da alfabetização…. E o universo conspirando a favor….Obrigada.
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Oi, Marluce, tudo bem?
Que alegria! ????????
Abraços, Martha #EquipeClarissaPereira