Oralidade como objeto de ensino na escola

Tempo de leitura: 8 minutos

Você teve dificuldade de apresentar trabalhos na faculdade? Sente-se despreparada para falar em público? Sente-se insegura para preparar uma palestra? Se você respondeu que SIM para alguma dessas perguntas, é possível que você se sinta hestiante em falar nestas situações, provavelmente, porque você não foi ensinada! Muitas vezes, nas aulas de linguagem da faculdade de pedagogia, nós saímos sem uma formação que considere a oralidade como modalidade da língua. Aprendemos a psicogênese e o que fazer para que os nossos alunos avancem em suas produções escritas, mas desconsideramos a oralidade ENSINADA INTENCIONALMENTE e a descartamos do nosso planejamento.

Isso ocorre muito sem querer, pois pensamos em oralidade apenas como aquisição da fala e não como uma modalidade de funcionamento da língua que pode ser ensinada na escola. Mas, hoje, nós queremos ampliar este conceito e te ensinar que a oralidade pode ser incluída no seu planejamento!

Ainda existem poucas pesquisas nesta área, pois é uma temática muito recente. O que percebemos nas salas de aula é uma atenção grande para o ensino da leitura e da escrita e um esquecimento das práticas orais. Aceitamos a premissa equivocada de que se o sujeito sabe falar, então, ele sabe se comunicar em qualquer situação. Contudo, não é bem assim! As conversas que temos espontaneamente com nossos amigos são bem diferentes de outras situações diversas de uso da oralidade, como uma apresentação de trabalho, uma leitura oral, uma entrevista, uma conversa com uma autoridade, dentre outras situações onde a nossa fala precisa estar adequada ao momento.

A partir dos nossos princípios e fundamentos sobre a oralidade, conseguiremos pensar em planejamentos e estratégias didáticas que irão ao encontro da nossa perspectiva. Por isso, estejamos convictas do que pensamos acerca deste conceito. Oralidade não é sinônimo de leitura oral (embora seja UMA das maneiras de fazê-lo), não é sinônimo de uma fala correta, no que diz respeito à conjugação de verbos e usos gramaticais que são normatizados na língua escrita, e nem é sinônimo de uma boa dicção ou da pronúncia correta de todas as palavras. Para nos ajudar aqui nesta conceituação, utilizaremos o glossário do CEALE:

“A noção de oralidade está estreitamente relacionada ao uso da modalidade oral da língua em práticas sociais e discursivas, tanto no que se refere à sua produção, quanto no que diz respeito à sua escuta. Envolve a ação de linguagem de sujeitos ativos e responsivos em contextos interacionais diversos (públicos ou privados) e registros de linguagem variados (formais ou informais).
A oralidade não se restringe ao estudo da materialidade da fala, mas envolve, em contextos socioculturais específicos, a fala associada a seu ritmo, entonação, volume e entrelaçada a múltiplas linguagens, como a gestualidade, a mímica, a imagem e até à modalidade escrita da língua (por exemplo, na TV, numa exposição oral em que se usa algum apoio escrito). Mesmo quando um indivíduo não se manifesta verbalmente, suas reações corporais (de interesse, curiosidade, tédio, indiferença, cansaço, emoção, entre outras) podem influenciar nas decisões discursivas tomadas por seu(s) interlocutor(es) e, com isso, no andamento da interação.
Quando a criança chega à escola, já sabe falar sua língua materna e interagir em situações do cotidiano. Por isso, indicar para o aluno simplesmente que “converse com o colega” não significa tomar a oralidade como objeto de ensino. A oralidade a ser trabalhada no espaço escolar deve ser, sobretudo, a que favorece o desenvolvimento da proficiência do aprendiz em gêneros orais formais públicos, ou seja, em gêneros que circulam em contextos de uso linguístico pouco comuns no dia a dia e para os quais exige-se um conhecimento que não figura no saber cotidiano.”

O planejamento de uma atividade de oralidade deve levar em consideração o interlocutor, o ambiente e o gênero textual envolvido. Uma conversa informal, por exemplo, não é (ou é pouco) planejada, você consegue aprender a partir da convivência, sem um ensino sistemático. Uma exposição oral, uma palestra, uma entrevista ou um discurso são gêneros mais estruturados e precisam ser previamente planejado, podendo, dessa forma, ser foco de ensino pela escola, pois não aprendemos essas práticas de linguagem de forma “natural”. Nesse sentido, além do conteúdo e da estrutura, precisamos ensinar e preparar nossos alunos também em questões como a entonação da voz, modulação, a postura do corpo, a expressão de gestos e até a quantidade de interlocução que será permitida por parte da plateia.

Estas situações de aprendizagem exigirão diferentes graus de preparo, tanto em relação ao conteúdo, como em relação à oralidade em si. Para um debate, por exemplo, é possível preparar-se, embora haja um alto grau de imprevisibilidade, visto que os contra-argumentos podem ser feitos e aí será necessária, possivelmente, uma fala que não estava previamente preparada. Nestas situações de aprendizagens orais, então, será possível avaliar a espontaneidade do indivíduo; ou seja, o quanto ele consegue prever situações e improvisar a sua fala, tomando decisões “em cima da hora”.

E por que é importante ensinar isso em fase escolar?

Aqui estão os 3 grandes objetivos de ensinar oralidade na escola (segundo o livro “Gêneros orais e escritos na escola”, de Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz e colaboradores).
1 – Levar os alunos a conhecer e dominar sua língua, nas situações as mais diversas, inclusive situações escolares;
Trabalhos escolares e exposições orais são situações formais de aprendizagem da escola, as quais solicitamos que os alunos façam sem nunca os ter ensinado. Como cobrar algo que não explicamos como é feito, não mostramos o passo a passo, não montamos roteiros, não dizemos o que é importante? É fundamental auxiliar as crianças a realizarem estas apresentações orais, não somente em relação ao conteúdo que terá que ser programado e bem estudado, mas em relação aos aspectos da oralidade em si (já abordadas no parágrafo acima).
2 – Desenvolver, nos alunos, uma relação consciente e voluntária com seu próprio comportamento linguístico, fornecendo-lhes instrumentos eficazes para melhorar suas capacidades de escrever e falar.
Isso significa formar um aluno crítico, que vai saber se ouvir, ouvir o outro e ser capaz de readequar a sua fala e a sua postura, de acordo com o que a situação pede. Está implicada aqui a aprendizagem de comportamentos metalinguísticos, ou seja, da capacidade de tomar a língua (e seus diversos aspectos) como objeto de reflexão e análise de maneira consciente e intencional.
3 – Construir com os alunos uma representação das atividades de escrita e de fala, em situações complexas, como produto de um trabalho, de uma lenta elaboração.
Aqui está presente o conceito de sequência didática: uma série de atividades organizadas com o objetivo de compreender o funcionamento de um gênero inserido em uma prática social e dotado de estrutura própria, tais aspectos devem ser foco de reflexão, análise e produção por parte dos alunos e planejamento por parte da professora. Faz sentido, por exemplo, uma turma toda apresentar o mesmo trabalho, que partiu de uma mesma leitura, com a mesma temática ou foco? Que mobilização isso irá gerar na plateia? Uma boa sequência deve ser estruturada de forma que dure vários dias, contemplando etapas sucessivas e que levem o aluno a, justamente, atingir o objetivo final em relação ao que foi proposto.

E os alunos tímidos? Como ajudá-los?
A oralidade planejada é uma ótima estratégia para ajudar essas crianças. Imagine-se tendo que expor sua opinião ou suas respostas de alguma interpretação de texto frente a uma turma inteira. Não é todo mundo que lida bem com toda essa exposição. Por isso, situações orais que envolvam estudo, ensaio e planejamento podem ser boas oportunidades para os mais quietinhos.

A oralidade está presente no CAP, Curso de Alfabetização na Prática! Trabalhamos com Leitura, Escrita, Análise Linguística e Oralidade, pois sabemos que esta é uma importante modalidade de ensino da língua para o desenvolvimento dos nossos alunos. Se você se interessa pelo CAP, clique aqui.

Para assistir a uma live muito interessante sobre esta temática, que fizemos com a Dra. Renata Sperrhake (Professora da área de Didática dos Anos Iniciais, Leitura e Escrita, Pedagogia/UFRGS), clique aqui.

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Artigo em parceria com Camila Oliveira (redatora), Renata Sperrhake (professora da aula transcrita) e Clarissa Pereira (mediadora).

6 Comentários


  1. não tenho palavras para agradecer o quanto essas aulas tem sido maravilhosa na minha vida é melhor que uma pós Deus continue lhe abençoando e toda sua equipe muito obrigadaaa bj

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    1. Olá, Mônica, tudo bem?

      Nós é que agradecemos por você nos acompanhar nessa caminhada! ❤️❤️

      Abraços, Martha #EquipeClarissaPereira

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  2. Muito agradecida por esses materiais, sao maravilhosos

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  3. Boa tarde!! Sr°. Seus conteúdos são muito rico; e faço das palavras de outras seguidoras também as minhas.

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