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Quando falamos de leitura e escrita na Educação Infantil é preciso cautela. O que temos hoje é um cenário dicotômico, separado entre aqueles que defendem uma Educação Infantil onde não se pode ter contato algum com letras, nem por meio de jogos ou cartazes, e aqueles que defendem o uso de apostilas e crianças sentadas em fileiras, onde é inadmissível que se termine o nível 5 (pré-escola, jardim…) sem que se saiba ler e escrever.
Acontece que este 8 ou 80 não é nem um pouco saudável. É inquestionável que as crianças vivem em um mundo letrado mesmo antes de nascer e que, por isso, não faz sentido negar, na esfera escolar, o contato das crianças com as letras. Além disso, é fundamental assumir uma posição política, especialmente nas escolas públicas, de oportunizar, sim, práticas de leitura e escrita desde a Educação Infantil. Ao mesmo tempo, não há por que forçá-los a conquistar uma leitura e uma escrita fluente em tão tenra idade, visto que a aquisição destas habilidades está prevista até o fim do 3º ano do Ensino Fundamental. Isso porque defendemos o conceito de alfabetizado para um sujeito que não apenas apresenta uma hipótese alfabética (1º ano), mas que avançou nas questões ortográficas regulares (2º ano) e produz e lê com autonomia os gêneros que estudou na escola (3º ano).
Nós, da Equipe Clarissa Pereira, entendemos que a Educação Infantil é uma etapa super importante do desenvolvimento e que possui suas próprias habilidades e objetivos para serem alcançados. A Educação Infantil não pode ser entendida como um período preparatório para o Ensono Fundamental, ela tem finalidade nela mesma. E a linguagem escrita é apenas mais uma das múltiplas linguagens que serão trabalhadas.
Em relação às práticas de leitura e escrita, nesta etapa escolar, acreditamos em um ensino que tenha como propósito o conhecimento das letras, a identificação e escrita de palavras estáveis, como seu próprio nome, compreensão leitora a partir de textos lidos por adultos ou leitura de imagens, produção de textos coletivos, além de um trabalho bem intencional e específico com as diversas habilidades de consciência fonológica (consciência de sílabas, de palavras, rimas e aliterações). Tudo isso sempre a partir de uma perspectiva que priorize a experiência, o lúdico, o brincar e a corporeidade. Neste sentido, a linguagem escrita não é uma disciplina isolada da Educação Infantil, mas está integrada ao currículo que valoriza o protagonismo da infância.
Uma outra questão muito importante em relação à Educação Infantil é orientar os pais sobre as expectativas que eles têm, bem como alinhá-las de acordo com o trabalho que será desenvolvido durante o ano. Do contrário, você correrá o risco de ter famílias cobrando a necessidade de que seus filhos sejam proficientes na leitura e na escrita até o fim do ano letivo.
9 sugestões de práticas de leitura para a Educação Infantil (que aconteceram em uma sala de aula real da nossa aluna CAP Erika!)
Alfabeto de nomes: fazer um alfabeto na sala com o nome de todos os alunos e da professora é uma ótima estratégia. Os nomes são as primeiras palavras de referência das crianças e tornam-se palavras estáveis. A partir delas, será mais fácil de criarem novas relações e ampliarem o seu repertório. Com boas intervenções (inicialmente em nível oral), os alunos conseguem se desapegar do que é o objeto para refletir sobre a língua.
Banco de palavras: a estratégia de criar um banco de palavras é muito bacana. Trata-se de um simples cartaz que pode ser confeccionado pelas crianças e que ficará exposto na sala de aula para consulta. Esta lista deve ser escolhida com intencionalidade, a partir de palavras relacionadas aos estudos do momento. O banco deve ser atualizado constantemente (não será feito um cartaz para o resto do ano).
Ditado estourado: ao chegar na sala, as crianças se deparam com bexigas coladas na lousa. Dentro das bexigas, colocamos imagens, palavras estáveis, sílabas ou letras (tudo de acordo com o desenvolvimento/perfil da sua turma). Um aluno por vez vai até a lousa e estoura uma bexiga, identifica e lê para os colegas a figura/imagem/letra/sílaba que tirou. No fim do ano, as crianças já podem se arriscar no registro escrito.
Rodas de leitura: os momentos de leitura realizados pela professora são fundamentais. As crianças escutarão uma leitura modelo, com entonação, sinais de pontuação, gestos… Além disso, é importante que boas perguntas sejam feitas, explorando o gênero textual LINK, as ilustrações, as informações dos autores e ilustradores…
Textos coletivos: produção de texto na Educação Infantil, sim! Temos várias alternativas de fazer isso. Uma das maneiras é ter a professora como escriba. Escrever o pedaço faltante de uma história, produzir listas, fazer relatos… A professora pode registrar na lousa ou em um papel pardo as ideias da turma. Brincadeiras com cantigas, parlendas e trava-línguas também são boas opções. De forma coletiva, as crianças podem recortar as palavras, identificá-las e colá-las formando um texto já conhecido.
Nomear objetos da sala de aula: uma ideia muito bacana para tornar estáveis as palavras do dia a dia é etiquetar o ambiente da sala de aula. Mesa, cadeiras, janelas, tesouras, e até mesmo o chão e o teto podem ser nomeados. Podemos escrever estas palavras e colocá-las em uma latinha. Cada criança pode retirar uma palavra, tentar identificar, fazer relações com os nomes da turma, até conseguir identificar qual é o objeto. Após, a própria criança pode ir colar no lugar certo.
Pipoca das sílabas: para esta atividade basta um pote de pipocas e pipocas de papel com sílabas escritas nelas. Um aluno retira do pote uma sílaba, lê, diz uma palavra que contenha aquela sílaba, e os colegas escrevem. É uma atividade bacana para sondagem. Depois disso? É só comer pipoca de verdade, é claro!
Bingo das rimas: está é uma ótima brincadeira para trabalhar com consciência fonológica. No caso do exemplo da nossa aluna Erika LINK, ela fez um bingo com brincadeiras. Você pode modificar de acordo com o repertório de palavras que estiver trabalhando. E vejam só, ela usou imagens e não palavras. Muito boa estratégia para crianças que ainda não se arriscam na leitura. Por fim, é claro que eles brincaram de acordo com as imagens que estavam nas cartelas.
Trilha silábica: esta atividade cheia de ludicidade foi feita apenas com papel pardo! Em um saco, a professora coloca imagens do repertório de palavras que estiver sendo trabalhado (no caso da foto, eram animais). Cada criança sorteia, identifica o animal e analisa a quantidade de sílabas da palavra. Percebam algo importante aqui: a ideia de sílaba e de “pedacinhos” de uma palavra já deve ter sido trabalhada. Assim as crianças não terão dificuldades em jogar. Após a identificação, basta andar com o seu personagem o número de casas referente ao número de sílabas.
Quer saber da onde a Erika tirou estas ideias? Clique aqui e aprenda essas e mais outras sugestões!
Dicas bônus que vão deixar a sua prática ainda mais intencional!
Ler apontando para as palavras: para entendermos como as crianças estão avançando na aquisição da leitura e da escrita, não basta pedir que elas façam escritas espontâneas. Pedir que elas leiam apontando com o dedo o lugar que está sendo lido vai nos dizer muito sobre o nível em que esse aluno se encontra.
Deixar os cartazes na altura das crianças: cartazes altos são inatingíveis. Turmas de Educação Infantil precisam enxergar, tocar, experenciar. Além disso, estes cartazes ganham ainda mais significado se forem feitos pelas próprias crianças e se forem atualizados constantemente.
Utilizar diferentes gêneros textuais: que tipo de texto utilizar com crianças pequenas? Tem uma regra? Não! A regra é que não tem regra! Varie, explore, oportunize. A escola será um dos lugares mais ricos de oportunidades de contatos com diferentes gêneros; por isso, não fique presa somente a um ou outro.
Não tenha medo de repetir atividades, apenas modificando os textos e palavras: todas as sugestões dadas aqui podem ser repetidas com textos, palavras e sílabas diferentes. Repetir é bom! Quando repetimos uma situação de aprendizagem que a criança já conhece, suas funções cognitivas podem ficar ainda mais focadas no conteúdo do que nas regras da situação em si, pois ele já está apropriado daquele jogo/atividade.
Foque no protagonismo das suas crianças: não use sempre xerox e folhas estruturadas com desenhos perfeitinhos. Deixe que eles criem, que explorem, que se aventurem. A necessidade pela perfeição pode interromper o processo criativo das crianças que argumentam que “não sabem fazer” que é solicitado pela professora.
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Abraço,
Professora Clarissa Pereira e Camila Oliveira
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Dicas excelentes e perfeitas para que o aluno se torne protagonista do seu próprio saber.
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Verdade, Rosenice!❤️
Abraços, Martha #EquipeClarissaPereira
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Olá, meus queridos da equipe clarissa pedagógica ❤️???????? muito obrigada ???? adorei o material riquíssimo.Deus abençoe todos vcs.????????????????????
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Olá, Antônia, tudo bem?
Que bom que você gostou.
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Abraços, Martha #EquipeClarissaPereira